Santa Catarina registra maior surto de coqueluche desde 2014, com 259 casos e duas mortes
O estado de Santa Catarina registrou, em 2024, o maior surto de coqueluche desde 2014, com 259 casos confirmados. O aumento de mais de 12 mil por cento em relação ao ano anterior também trouxe um dado alarmante: após uma década sem óbitos relacionados à doença, dois bebês de apenas dois meses morreram em decorrência da infecção.
O médico infectologista pediatra e diretor clínico do Hospital Infantil Joana de Gusmão, Dr. Marcos Paulo Guchert, explicou que a coqueluche, causada pela bactéria Bordetella pertussis, tende a ocorrer em ciclos de surtos a cada três a cinco anos. “O último grande susto realmente foi em 2014. Desde então, não tínhamos visto um aumento tão expressivo de casos. Um dos fatores que pode ter contribuído foi a pandemia de Covid-19, que, com o isolamento, reduziu a transmissão de doenças infecciosas. Além disso, observamos uma queda nas coberturas vacinais nos últimos anos, o que certamente influenciou esse cenário”, afirmou o especialista.
A transmissão da coqueluche ocorre principalmente por gotículas liberadas na tosse, espirros ou até mesmo durante a fala de uma pessoa infectada. Os sintomas incluem tosse persistente, que pode durar semanas e ser acompanhada de guinchos pela dificuldade de respirar. A gerente de doenças infecciosas agudas e imunização da Diretoria de Vigilância Epidemiológica do Estado (Dive), Arieli Fialho, destacou a importância de buscar atendimento médico ao notar os sinais. “Na dúvida, é fundamental procurar uma unidade de saúde. A coqueluche pode agravar rapidamente, especialmente em crianças pequenas”, alertou.
Vacinação: a principal estratégia de prevenção
A vacina contra a coqueluche é parte do Calendário Nacional de Vacinação e é essencial para a proteção, especialmente de bebês e gestantes. Dr. Marcos Paulo Guchert enfatizou o papel da imunização. “A gestante é vacinada em toda gravidez para evitar que adquira coqueluche e transmita ao bebê. Além disso, ela passa anticorpos para a criança durante a gestação, protegendo-a nas primeiras semanas de vida. Depois, o bebê recebe três doses da vacina no primeiro ano, com reforços aos 15 meses e aos quatro anos”, explicou o médico.
Apesar de segura e eficaz, a vacina não oferece imunidade vitalícia, o que justifica o reaparecimento da doença em ciclos. “Nem mesmo contrair a doença garante imunidade permanente. Essa característica da bactéria contribui para o retorno da coqueluche em intervalos de cerca de cinco anos”, acrescentou.
Conforme o Ministério da Saúde, Santa Catarina alcançou uma cobertura vacinal de 90% em crianças menores de um ano em 2024, próximo à meta de 95%. Os dados disponíveis, no entanto, abrangem apenas até o início de novembro, sugerindo que ainda há espaço para melhorar a adesão à imunização.
“Precisamos reforçar a importância da vacinação, pois é a melhor forma de evitar surtos e proteger nossas crianças, especialmente os bebês, que são mais vulneráveis”, concluiu Arieli Fialho.