Decadência do Ensino Brasileiro. Por Ana Dalsasso

Há décadas estamos acompanhando calados, omissos e inertes a decadência do ensino brasileiro, como se não tivéssemos parte de responsabilidade no problema. Aos poucos o sistema educacional foi sendo corroído pela podridão escondida nas sucessivas mudanças travestidas de modernidade, tirando de nossos jovens e crianças a única chance de uma vida melhor: educação de qualidade.
As mudanças foram acontecendo com a tal redemocratização do ensino. Sorrateiramente foram introduzidas ideologias dominantes que tiram de nossas crianças e jovens a oportunidade de evoluir cognitivamente e vivenciar os valores inerentes a todo ser humano na busca do desenvolvimento pessoal e profissional.
Tudo começou nas universidades com a doutrinação dos futuros profissionais. As salas de aula são solos férteis para a semeadura. Gradativamente as sementes foram sendo disseminadas. Lembro-me das primeiras mudanças no ensino básico com a eliminação das disciplinas: Educação Moral e Cívica, OSPB (Organização Social e Política do Brasil), PPT (Preparação Para o Trabalho), e sutilmente tantas outras, mas nós professores não questionamos. Depois veio o avanço progressivo que foi transformado em promoção automática, levando à acomodação professores, pais e alunos, pois aprendendo ou não, passavam de ano. Pais ficavam felizes porque os filhos não repetiam de ano, alunos tornaram-se negligentes e professores acomodaram-se. E assim a degradação do ensino foi tomando corpo e ninguém fez nada. A situação das escolas brasileiras hoje não é apenas preocupante, é caótica, do ensino fundamental ao superior.
Estamos formando analfabetos funcionais, indivíduos que, embora possam reconhecer letras e formar palavras, não conseguem compreender ou utilizar a informação de forma adequada em situações práticas, são incapazes de interpretar e associar informações. Essa limitação compromete a capacidade de interação social e profissional das pessoas, dificultando seu desenvolvimento pessoal e profissional, consequentemente comprometendo o desenvolvimento econômico do país, uma vez que limita a capacidade da população de contribuir de maneira qualificada para o mercado de trabalho.
Enquanto isso as autoridades governamentais tentam passar à sociedade uma imagem de que a educação no país caminha a passos largos, que o índice de analfabetismo diminuiu, que as escolas nunca foram tão bem equipadas como o são, que professores são valorizados e estimulados, mas a realidade que se apresenta é desesperadora, e só não enxerga quem não quer. O acesso à escola existe, porém falta qualidade no ensino.
Dito isso, quero falar um pouco sobre a avaliação do INEP/2023 (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira) que divulgou os resultados nessa semana sobre o desempenho das universidades. O descaso das autoridades já começa pelo prazo de divulgação. Já estamos caminhando para a metade do ano de 2025 e a avaliação só sai agora. Sabendo que os dados de uma avaliação servem para a melhoria do processo, significa que permaneceremos dois anos sem corrigir as distorções.
Mas, vamos aos dados: das 2.101 instituições de ensino superior, públicas e privadas analisadas, apenas 66 obtiveram o conceito máximo, o que significa 3,14%. A avaliação é obtida a partir do desempenho dos acadêmicos no ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), da qualificação dos professores, da qualidade da infraestrutura e do valor agregado pelo curso ao desenvolvimento dos alunos, uma vez que são confrontados os resultados do ENEM (início da graduação) e ENADE (término).
Mas, hoje não são apenas os exames de proficiência dos estudantes que denunciam a realidade. Brasileiros de todos o pontos do país, de variadas faixas etárias, de níveis socioeconômicos e escolaridade diversificados, apontam a má qualidade do ensino como um entrave para o desenvolvimento do país, ficando evidente que os graves problemas enfrentados pelo povo brasileiro poderiam ser minimizados se a educação fosse tratada com seriedade.
Ob.: Voltarei ao assunto na próxima semana.