Direto de Roma, o missionário redentorista compartilha reflexões sobre a perda do Papa e o que pode esperar da eleição de um novo pontífice.

Hoje, às 9h, horário de Roma, o corpo do Papa Francisco foi oficialmente transferido para a Basílica de São Pedro, no Vaticano, onde fiéis de todo o mundo poderão prestar suas últimas homenagens. A condução da urna foi precedida por um momento de oração presidido pelo cardeal Kevin Joseph Farrell, camerlengo da Santa Sé. A partir de agora, o velório será aberto ao público até sexta-feira (26), quando será realizado o funeral. A cerimônia está marcada para o próximo sábado, às 10h, na Praça de São Pedro.

Em entrevista ao Jornal da Guarujá, o padre Inácio Medeiros, missionário redentorista e membro do Instituto Histórico da Congregação Redentorista, em Roma, compartilhou sua visão sobre o impacto da morte do Papa Francisco, o primeiro sul-americano a liderar a Igreja Católica. Durante a conversa, o padre abordou como a Igreja encara o falecimento do Papa, que foi um grande reformador e defensor da união entre diferentes culturas, quebrando paradigmas históricos da própria Igreja.

“Bom, em termos humanos, é claro, a morte de qualquer pessoa é algo que pode acontecer a qualquer momento, mas, quando se trata de um Papa como o Papa Francisco, que tem uma trajetória e um carisma muito grandes, é sempre um choque. Claro, sabíamos que, devido à saúde que ele já vinha apresentando nos últimos tempos, poderia acontecer, mas ninguém esperava que fosse de uma forma tão repentina, tão intempestiva, como aconteceu. Isso causa, sem dúvida, um grande desarranjo na estrutura da Igreja. Agora, a Igreja tem que tomar algumas medidas emergenciais para o sepultamento e, após isso, convocar o conclave para eleger o novo Papa”, afirmou o padre Inácio.

Ele também relatou o clima em Roma: “A cidade de Roma está em choque, a Igreja está em choque. É um evento de uma magnitude tão grande que ainda está sendo digerido por todos. A Igreja, neste momento, se encontra em uma espécie de estado de alerta para lidar com o processo de luto e os próximos passos”.

Sobre o ritual das exéquias, padre Inácio detalhou que, até sexta-feira, o corpo do Papa estará disponível para visitação. “Hoje, o corpo do Papa foi transferido para a Basílica de São Pedro. Desde agora, até sexta-feira, dia 26, o corpo ficará exposto para visitação pública. A partir das 21h de sexta-feira, então, a visitação será encerrada para dar início aos preparativos para o funeral, que ocorrerá no sábado, às 10h, na Praça de São Pedro”, explicou.

Após a cerimônia fúnebre, o corpo do Papa Francisco será levado para a Basílica de Santa Maria Maior, conforme desejo expresso em seu testamento. “O Papa Francisco já havia manifestado, em seu testamento, o desejo de ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maior. Isso será atendido, e ele será sepultado lá, diferentemente de outros papas que foram sepultados na Basílica de São Pedro”, detalhou o padre.

O Conclave 

Após o funeral, a Igreja iniciará o processo de convocação do conclave para escolher o novo Papa. “O conclave será convocado dentro de 15 dias após o sepultamento do Papa, mas isso pode ser antecipado, como aconteceu em outros momentos. Hoje, temos 135 cardeais com direito a voto, sendo que 108 desses cardeais foram nomeados pelo Papa Francisco. Isso pode indicar que a escolha do novo Papa siga a linha pastoral dele, que focou muito na questão da misericórdia, da inclusão e do diálogo com as periferias”, disse o padre.

Sobre a possibilidade de quem será o próximo Papa, o padre Inácio explicou: “Em relação à previsão de quem será o próximo Papa, é muito difícil fazer qualquer tipo de previsão. O conclave é um ambiente fechado, onde os cardeais não têm acesso a nenhuma informação externa. Existe uma bolsa de apostas, claro, com alguns nomes sendo mencionados, mas o colégio de cardeais é muito internacional, não tem mais aquela predominância dos cardeais europeus e italianos. Ou seja, qualquer coisa pode acontecer. O próprio Papa Francisco foi uma grande surpresa. Pouca gente conhecia ele antes de ser eleito, então, é possível que o próximo Papa também seja uma surpresa”, comentou.

Legado do Papa Francisco

Ao final da entrevista, o padre Inácio refletiu sobre o legado do Papa Francisco: “Eu resumiria o legado dele em uma palavra: misericórdia. O Papa Francisco sempre teve um olhar voltado para os marginalizados, para os pobres, para os excluídos. Ele foi um Papa que quebrou muitos paradigmas, que mostrou a Igreja de uma maneira mais aberta, mais acessível, e que se propôs a dialogar com diferentes culturas e religiões. Ele foi muito além das questões eclesiásticas, ele se importou profundamente com as questões sociais, econômicas e políticas, e deixou uma marca de paz e compaixão que, com certeza, vai perdurar na Igreja e no mundo.”

A morte do Papa Francisco representa o fim de uma era e o início de um novo capítulo para a Igreja Católica. Sua morte deixa um vazio, mas seu legado de união, compaixão e transformação continuará a guiar a Igreja nos próximos anos.

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