Perdas, morte e luto. Vamos falar sobre isso? Por Carina Mengue
Olá, leitor.
Hoje dia 01 de Novembro é dia de todos os santos e amanhã no mundo ocidental, o dia 02 de novembro é dedicado à memória dos mortos. Esse dia, popularizado pela tradição católica, foi instituído no período da Baixa Idade Média.
Quando remeto a essa data trago com ela um tema desconfortável de abordar e até um tabu – a morte, o luto e as perdas.
Falar de morte é delicado. Já recebi perguntas no quadro semanal do Jornal do Almoço que participo onde me questionaram sobre como abordar esse assunto em família, porque havia resistência alegando que traz azar. Justamente por não falarmos a respeito que ele se torna difícil, desconfortável e estranho. As vezes aprendemos que não se pode falar sobre esse assunto e no momento em que realmente precisa ser dito, inclusive para a dor ser processada, digerida, compreendida e curada, pode-se evitar procurar ajuda e provocar uma reclusão e isolamento ainda maior. Também entendo que as vezes quando se busca conversar sobre a morte, as pessoas geralmente não estão preparadas para ouvir é a mesma coisa quando vamos a um velório e não sabemos direito o que dizer as pessoas enlutadas. Toda essa dificuldade é justamente porque evitamos esse assunto, fugimos dele e esperamos nunca precisar falar sobre ele. A questão é que um dia esse assunto vai bater na minha porta, na sua porta e não estaremos preparados para lidar, falar e administrar a situação. Todos podemos nos beneficiar aprendendo a como reagir ao luto de uma forma que não o prolongue, intensifique ou rejeite a dor. A ideia aqui de se falar sobre a morte é para não anularmos o fato da finitude, da partida, das perdas do fim, ou seja, da morte que também é parte do ciclo da vida.
Para a psicologia o luto está ligado aos processos que envolvem perdas em diversos contextos e podem ser muito mais abrangentes, porém vamos focar na definição geral da palavra relacionada à morte.
Em nossa cultura ninguém é preparado para vivenciar os processos de perda, mesmo sabendo que mais cedo ou mais tarde estaremos diante desta situação.
Quando pensamos na vida o que vem à mente é sempre as alegrias, as conquistas, os projetos, estudos, trabalhos, vitórias, felicidade, etc… e esquecemos que nem tudo são flores, aliás que as flores também podem ter espinhos e estes podem machucar, deixar marcas de feridas cujas cicatrizes sempre vão estar ali. Talvez por isso tenhamos tanta dificuldade quando em fim a dor da perda vem nos afligir.
Não existe fórmula mágica para dizer exatamente como vamos passar por esse momento de maneira mais adaptativa, não há como prevê as reações se vamos chorar, desesperar, sentir raiva, remorso, culpa, etc. porque tudo depende da forma como ocorreu a situação.
Cada um vivencia o luto de acordo com sua personalidade, com suas percepções, resiliência, estratégias de enfrentamento, e de acordo com o significado que se atribui a pessoa que se foi, isso é individual, é único para cada pessoa.
Mas, por meio de estudos, sabe-se que existem algumas atitudes importantes a ponderar em relação ao luto:
- Aceite o fato de que toda vida tem um fim. É parte da jornada de cada um, e isso vai chegar independente de idade, condição social, atributos físicos, ou qualquer outra característica.
- Vivencie o processo de luto. Não existe essa conversa de dizer que você é forte e pode passar por cima dos seus sentimentos de tristeza, ou que tem o poder para reprimir a tristeza. Quando as pessoas escolhem não vivenciar o processo de luto, podem estar trazendo para si adoecimento como consequência das emoções reprimidas que tanto poderão se manifestar no corpo quanto na mente.
- Busque estratégias para enfrentamento. É preciso buscar estratégias para enfrentar melhor esse momento, elaborar a perda é muito importante. Como isso é possível? Busque apoio (familiar, de amigos, de um profissional), não sofra sozinho, não se isole, muitos se apegam à fé, procure pensar nas coisas boas vividas com a pessoa que se foi.
- Não foque no fato em si. Tente não se culpar ou viver em busca dos culpados para o fato.
Traçando um paralelo entre o início e o fim da vida, podemos chegar à seguinte conclusão: assim como quando uma pessoa nasce nos adaptamos a esse novo ser que será somado e integrado a nossa existência, não sabemos o que esperar, como agir e assim vamos aprendendo a conta de mais um, com a morte também passamos por um novo processo de readaptação, quando ela chega precisamos aprender a subtrair e viver com esta conta de um menos.
E, ao contrário do nascer, que não temos a mínima noção do que virá, o morrer nos traz oportunidades de refletirmos, melhorarmos, reinventarmos, e de trazer a memória as boas recordações, lições de tudo o que vivemos com aquela pessoa que partiu.
Saber aceitar e conviver com a morte também faz parte do processo de amadurecimento que mais cedo ou mais tarde cada um precisará enfrentar.
O processo de luto é inevitável, porque faz parte da vida, a saudade pela perda vai sempre existir, mas cada um precisa buscar se reorganizar e manter um bom ajustamento para se readaptar à nova situação e continuar a sua vida.
Que façamos uma reflexão nessa semana dos finados.
Até a próxima!
Um abraço
Carina Mengue.