A escassez de mão de obra no setor de transportes foi um dos temas principais debatidos durante reunião da Confederação Nacional do Transporte (CNT), realizada recentemente. Dagnor Schneider, presidente da Fetrancesc (Federação das Empresas de Transporte de Carga e Logística de Santa Catarina), foi o relator da reunião e destacou a preocupação crescente do setor com o impacto dos programas sociais, como o Bolsa Família, no mercado de trabalho.
Schneider explicou que uma das principais dificuldades enfrentadas pelas empresas de transporte de carga é a falta de interesse dos beneficiários de programas sociais em formalizar vínculos empregatícios. “Quem está num programa social, ele não quer uma assinatura de carteira profissional porque ele perde o benefício. Isso tem afastado os trabalhadores do mercado de trabalho formal”, afirmou. Ele ressaltou que a situação é ainda mais preocupante para setores que demandam profissionais qualificados, como o de transporte de cargas.
Segundo o presidente da Fetrancesc, a solução seria revisar os programas sociais do governo federal, para evitar que eles incentivem a fuga do mercado de trabalho. “Precisamos que o governo faça uma revisitação aos programas sociais, para que eles não afastem o interesse pelo trabalho. Queremos que o beneficiário, durante o recebimento do auxílio, tenha a oportunidade de se qualificar e se reintegrar ao mercado de trabalho”, sugeriu.
A proposta apresentada na reunião foi que, durante a vigência do programa, os beneficiários recebam treinamento para se reintegrarem ao mercado de trabalho de forma gradual. A ideia é que o auxílio social tenha um caráter temporário, para que as pessoas possam se adaptar e acessar o mercado de trabalho.
“Somos contra o assistencialismo eterno. Quando uma pessoa não tem condições de se manter, ela deve ser assistida, mas é preciso estabelecer prazos e condições para que ela possa se qualificar e deixar o programa social”, destacou Schneider.
Na última semana, o governo federal anunciou um corte no orçamento de 2025, reduzindo em R$ 7,7 bilhões os recursos destinados ao Bolsa Família. O relator do orçamento, senador Ângelo Coronel, explicou que a redução tem como objetivo sanear o programa, cortando quem recebe o benefício de forma irregular. A medida tem gerado discussões sobre o impacto nos beneficiários e sobre as alternativas para melhorar a gestão dos programas sociais no Brasil.
Para o setor de transportes, o desafio continua sendo a qualificação da mão de obra e a revisão das políticas públicas que possam incentivar o emprego formal, ao mesmo tempo em que atendem às necessidades sociais da população.