Bispo de Tubarão destaca legado do Papa Francisco: “Um pastor próximo das ovelhas, defensor dos excluídos e da casa comum”

A repercussão mundial pela morte do Papa Francisco tem mobilizado líderes religiosos em todos os continentes. Ao Jornal da Guarujá, Dom Adilson Pedro Busin, bispo da Diocese de Tubarão, refletiu sobre o impacto e o legado deixado pelo pontífice argentino, primeiro Papa latino-americano da história da Igreja Católica.
“Para mim, o Papa Francisco deixa muitas heranças”, afirmou o bispo logo no início da conversa. Comparando seu legado aos dos predecessores, como São João Paulo II e Bento XVI, Dom Adilson ressaltou o carisma singular de Francisco: um pastor próximo das pessoas, especialmente dos mais pobres e excluídos. “Ele sempre esteve ao lado dos autistas, cadeirantes, crianças e minorias. Defendeu com vigor os migrantes e os flagelados pelas catástrofes naturais. Francisco foi profético nesse aspecto, sempre denunciando injustiças e clamando por solidariedade.”
Dom Adilson, que também preside a comissão dos bispos do Brasil no enfrentamento ao tráfico de pessoas, recordou o papel ativo do Papa no combate a essa chaga global. “Francisco jamais se calou diante do tráfico humano. Em suas mensagens anuais e encontros com autoridades, ele denunciava, chamava à responsabilidade os governos e instituições que podem proteger os direitos humanos.”
O bispo também destacou as reformas internas promovidas por Francisco dentro da própria Igreja, em especial a abertura de espaços para a atuação feminina. “Foi o primeiro Papa a nomear uma mulher como presidente de um dicastério do Vaticano. Isso é inédito. Sempre que possível, ele colocava mulheres em posições de liderança, de gestão pastoral, com muita naturalidade e respeito”, afirmou.
Outro ponto fundamental do papado de Francisco, segundo Dom Adilson, foi sua visão sobre o meio ambiente. “A encíclica Laudato Si’ é um chamado ao cuidado da casa comum, inspirado por São Francisco de Assis. Ele propôs uma ecologia integral, uma economia menos consumista, mais humana e solidária. E viveu isso até o fim, inclusive em seu pedido de um funeral simples.”
A espiritualidade do Papa também foi lembrada com carinho pelo bispo: “Francisco era o Cristo da ternura. Falava constantemente da cultura do encontro, do valor da proximidade e da dignidade de todos os povos. Sua encíclica Fratelli Tutti é um apelo pela fraternidade universal.”
Sobre os jovens e os casais em segunda união, Dom Adilson destacou a sensibilidade pastoral de Francisco. “Na exortação Amoris Laetitia, ele convidou a Igreja a acolher com mais atenção esses casais, a acelerar processos de nulidade matrimonial e oferecer acompanhamento espiritual, sem exclusões. Ele não banalizou os sacramentos, mas pediu um olhar mais misericordioso, mais próximo.”
Por fim, o bispo lembrou que a santidade, segundo Francisco, é acessível a todos. “Ele escreveu Gaudete et Exsultate para mostrar que a santidade está ao alcance de todos — do leigo, da mãe, do pai, do trabalhador. Não é exclusiva de monges, padres ou papas.”
Dom Adilson concluiu sua reflexão afirmando que o legado de Francisco “ecoará por gerações” e continuará sendo um farol de fé, simplicidade e humanidade para a Igreja e para o mundo.