CEO do Carrefour anuncia decisão de não vender carne do Mercosul e provoca reações no Brasil
Em entrevista ao Jornal da Guarujá, presidente da FAESC, Enori Barbieri, comenta a polêmica e destaca a chance de ganhos diplomáticos para o Brasil.
O CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, causou polêmica ao publicar, em suas redes sociais, um comunicado no qual a gigante francesa do varejo assume o compromisso de não comercializar carne proveniente do Mercosul – bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Em sua mensagem, Bompard afirmou: “No Carrefour, estamos prontos, qualquer que seja o preço e a quantidade de carne que o Mercosul venha a nos oferecer”.
No entanto, o escritório do Carrefour na França esclareceu que essa medida se aplica apenas às lojas do país e que, nas demais nações onde o grupo opera, incluindo o Brasil e a Argentina, a carne do Mercosul continuará sendo comercializada, assim como em países com franquias.
A declaração gerou desconforto entre os produtores brasileiros, que viram a atitude como uma afronta não apenas ao Brasil, mas também à toda América do Sul. O vice-presidente da FAESC (Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina), Enori Barbieri, em entrevista ao Jornal da Guarujá, expressou indignação, dizendo que o comportamento do Carrefour faz parte de uma postura arrogante da França, que ainda enxerga o mundo fora da Europa como uma colônia.
“Eu diria pra você que isso faz parte da soberba francesa, que ainda vê o mundo fora da Europa como uma colônia. Eles acham que ainda estamos no tempo das grandes descobertas, quando todo mundo baixava a cabeça para atender aos interesses da Europa”, afirmou Barbieri.
Ele também destacou que a medida foi uma ofensa não só ao Brasil, mas a toda a América do Sul, chamando atenção para a qualidade sanitária da carne brasileira. “Nós exportamos para mais de 200 países, e a carne brasileira, especialmente a carne catarinense, tem qualidade reconhecida. Falar que a carne do Mercosul não tem qualidade sanitária foi uma ofensa não só para os brasileiros, mas para toda a América do Sul”, disse o vice-presidente da FAESC.
Crise diplomática ou oportunidade para o Brasil?
O incidente gerou uma reação rápida das entidades representativas dos produtores, com mais de 60 organizações brasileiras assinando um documento de repúdio à declaração. O governo brasileiro também se manifestou, com a Embaixada Brasileira em Paris intervindo junto à Embaixada Francesa para exigir uma retratação.
Barbieri, no entanto, vê a situação como uma oportunidade para o Brasil, ressaltando que a postura do Carrefour foi uma tentativa de agradar aos produtores franceses, que têm sido contrários ao acordo entre o Mercosul e a União Europeia. “Isso acabou gerando uma crise diplomática, mas eu acredito que isso vai trazer benefícios para o Brasil. O Carrefour quis agradar os produtores franceses, mas acabou gerando uma reação muito forte aqui no Brasil”, afirmou.
Ele também observou que a ação do Carrefour poderia acelerar as negociações entre o Mercosul e a União Europeia. “Eu acredito que isso vai até acelerar o processo do acordo, porque a França, ao se retratar, vai reconhecer que o Brasil tem a qualidade e a força que eles tentaram atacar”, completou Barbieri.
Para ele, o episódio, embora tenha causado desconforto, pode resultar em ganhos diplomáticos e comerciais para o Brasil. “A França tentou nos atacar, mas a realidade é que somos grandes exportadores e, no final, isso vai virar um trunfo para o Brasil. A crise diplomática vai trazer frutos positivos na negociação com a União Europeia”, concluiu o vice-presidente da FAESC.
Confira entrevista completa