Desfile das Escolas de Samba resgata tradição cultural de Laguna
O público vibrou ao som das escolas de samba, nesta sexta-feira, 17.
Depois de dez anos sem desfile oficial das Escolas de Samba de Laguna, o brilho e a raiz da cultura carnavalesca da cidade voltou a iluminar o Centro Histórico. O público, entre moradores e turistas, vibrou ao som das escolas de samba, nesta sexta-feira, 17.
Os Democratas abriram o desfile carnavalesco, seguido pelas Escolas de Samba Vila Isabel, Brinca Quem Pode, Mocidade Independente e finalizando com a Xavante.
“O retorno do desfile é um sonho realizado, é o resgate da cultura” comemora a Presidente da Fundação Lagunense de Cultura, Vanere Rocha.
O último desfile oficial aconteceu em 2013, mas houve uma apresentação em 2016, sem a competição. Este ano também não houve a competição oficial pelo título de campeã, mas o desfile oficial já foi suficiente para reviver essa tradição carnavalesca de Laguna.
Conheça os enredos das escolas de samba:
1ª – Os Democratas – enredo: De Camões a Rodrigues, uma viagem fantástica
2ª – Vila Isabel – enredo: Kaang – a criação do povo Khoisan, um conto de África
3ª – Brinca Quem Pode – enredo: André Reis dos reis
4ª – Mocidade Independente – enredo: 80 anos de Glória: apoteose de uma artista que o samba fez rainha na terra do Carnaval.
5ª – Xavante – enredo: Canaimé, de Roraima.
Mocidade:
Com enredo que abre com versos que expressam a saudade, a Mocidade Independente vai usar o desfile deste ano para homenagear Maria da Glória Barreto Pegorara. A construção da composição começou ainda em 2020, após a escola de samba decidir reverenciar a artista que havia completado 80 anos. Com o adiamento da folia de Momo em virtude da pandemia e as incertezas que rondam o Carnaval lagunense, a verde-e-branco vai apresentar o tema neste ano, mesmo que não haja competição.
A Mocidade tinha a intenção de fazer a homenagem em vida, como quando a coroaram rainha em 2019, durante o pré-carnaval. Infelizmente, Glorinha faleceu no decorrer do processo, vítima da Covid-19. O samba é de autoria de Cristian Pavanate, Renato Demétrio e Gerson Silva e foi escolhido em concurso feito pela escola de samba e viabilizado via Lei Aldir Blanc.
Segundo a agremiação, a apresentação, este ano, também é dedicada para Paulo Sérgio Silva, Zé Ari e Tereza Dedinho, ex-diretores. A verde-e-branco será a quarta a desfilar no dia 17 e em 2013, quando teve o último desfile competitivo, foi a terceira colocada.
Democratas:
Com uma trajetória iniciada no final dos anos 50, a escola de samba Os Democratas coleciona diversos títulos nessa caminhada carnavalesca. Na estante de troféus, está o título de 2003 conquistado com um enredo que associava Luís Vaz de Camões, o célebre autor d’Os Lusíadas, a João Rodrigues, o artista plástico português que Laguna adotou como filho seu e que ele adotou como cidade sua.
Para o Carnaval de 2023, como as regras estão bem flexíveis quanto às reedições de sambas antigos, a agremiação optou por refazer a homenagem e apresentar novamente a composição assinada por Marcus Paulino Teixeira e Cláudio Antônio Silva. Segundo Teixeira, a escolha se deu por vários motivos: a passagem dos 30 anos de falecimento de Rodrigues, conhecido como “Português”, dos 20 anos da Bateria 1000 Graus, do mestre Danilo; e das duas décadas do ingresso do músico na escola.
A agremiação foi a última campeã do Carnaval em 2013.
Brinca quem pode:
Entre as homenagens que serão apresentadas na passarela da Gustavo Richard no desfile deste ano, a Brinca Quem Pode levou para os paralelepípedos da centenária rua a saudade e a lembrança de André Reis, filho do fundador Paulo Tibúrcio dos Reis (Paulinho Baeta), também já homenageado em outros carnavais.
Inédito, o enredo da escola é uma composição de Alexandre Fortes e Marcos Kfouri. Fundada em 1947, a Brinca Quem Pode faz aniversário justamente no dia do desfile. Segunda mais antiga da cidade, a escola foi a quarta colocada no último desfile competitivo em 2013.
Vila Isabel:
A Vila Isabel é considerada como “a internacional”, tudo graças à excursão que fez à Argentina nos anos 70, levando o samba da cidade juliana para além da fronteira. A escola, que chegará aos 65 anos em maio de 2023, foi longe para buscar inspirações para o enredo. A fonte para basear a letra são as origens do povo africano.
Mais especificamente, a Vila evoca a criação do povo Khoisan (lê-se Coissã), designação usada para falar da unificação de dois grupos étnicos tradicionais do sudoeste africano e que partilham características físicas e linguísticas dos demais. A letra é assinada por Ademir Roque (mestre Filho).
Xavante:
A taba xavantina aposta nas origens indígenas para o Carnaval deste ano. A comissão carnavalesca da escola de samba, a pioneira de Laguna que fará 77 anos no dia 22, buscou inspiração em uma lenda tradicional de Roraima, estado amazônico localizado no Norte do país. O Canaimé vem das crenças dos macuxi e uapixana e seria, naqueles costumes, o responsável por alguns acontecimentos maléficos.
A letra foi apresentada por Cristian Pavanate e Renato Demétrio e já foi passada pelos componentes nos ensaios gerais. Segundo Pavanate, cerca de um mês e meio foi o tempo de produção do enredo. “A criação literária do samba se deu, através da leitura e pesquisa minuciosa do tema priorizando no samba aquilo que a escola vai apresentar na avenida”, comenta.
O Xavante surgiu em 1946 e é um dos mais antigos ainda em atividade no estado catarinense. Sob a presidência de Márcio Cardoso, o popular Pururuca, a taba xavantina alinha os últimos detalhes para suas apresentações. Em 2013, no último desfile oficial com competição, a escola foi vice-campeã.