TSE lança cartilha “Expressões racistas: por que evitá-las”
Publicação lista 40 termos que devem ser abandonados, pelo teor preconceituoso que carregam na esfera idiomática
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publicou a cartilha Expressões racistas: por que evitá-las, que traz uma lista de 40 termos e expressões que não devem ser usados pelas brasileiras e brasileiros, em sua linguagem cotidiana ou formal, por seu teor racista e ofensivo. A publicação foi produzida pela Comissão de Promoção de Igualdade Racial do TSE, instituída em março, para combater o preconceito racial na Justiça Eleitoral.
Na apresentação, o ministro Benedito Gonçalves, coordenador institucional da Comissão, diz que o material “visa promover a mudança de hábitos e comportamentos nas pessoas e facilitar a exclusão de expressões idiomáticas que possam embutir preconceito racial”. Para facilitar que esse objetivo seja alcançado, a cartilha explica o motivo pelo qual cada uma das expressões possui conotação racista.
Racismo escancarado
Um exemplo muito comum é a palavra “escravo”. Conforme a explicação, a palavra certamente deriva do termo latino “sclavus, ou seja, pessoa que pertence a outra, ou de slavus, isto é, eslava ou eslavo, um povo bastante escravizado na antiguidade”.
Capa da cartilha do TSE
Outro ponto fundamental apontado é que “os termos escrava e escravo passam a ideia de que a pessoa já nasceu sem liberdade, como algo inato à sua condição, ignorando o fato de que as africanas e os africanos foram trazidos(as) ao Brasil e forçados(as) a trabalhar nessa condição”. Assim, como se explica na cartilha, “a palavra mais adequada para designar essa condição seria ‘escravizado(a)’”.
Racismo escondido
Em outros casos, porém, “à primeira vista, não há nada de errado com a palavra e seu uso, contudo embute-se nela o racismo a partir do instante em que transmite a ideia de que a compreensão de algo só pode ocorrer sob as bênçãos da claridade, da branquitude, mantendo no campo da dúvida e do desconhecimento as coisas negras”. Esse é o caso de “esclarecer”, que, conforme a publicação do TSE, “mais adequado, nessas circunstâncias, seria o uso das palavras ‘explicar’ ou ‘elucidar’, por exemplo”.
Inúmeros outros termos são usados sem que a pessoa que os pronuncia sequer note que está difundindo um conteúdo preconceituoso e racista. Entre eles, estão “humor negro” (quando o mais adequado seria humor ácido), “denegrir” (difamar ou caluniar), “cabelo ruim” (cabelos crespos) e “a coisa tá preta” (a situação está difícil).
Racismo estrutural
Para o secretário de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Almir Aguiar, o lançamento de uma cartilha como essa “é fundamental para o avanço social no Brasil, porque se trata de uma publicação de Estado, que não apenas reconhece um problema sério que se verifica de norte a sul do país, mas também porque mostra a origem desse preconceito, argumenta contra ele e apresenta soluções”.
Almir, que também é militante do Movimento Negro Unificado (MNU), ressalta ainda que “a cartilha mostra o quanto o racismo é estrutural no Brasil e se manifesta de modo sistêmico, até mesmo na fala de pessoas que muitas vezes não têm essa intenção, mas acabam difundindo preconceitos. Por isso, todos devem conhecer esses termos e evitá-los, para reduzir a reprodução da discriminação racial”.
A publicação deverá ter novas versões no futuro, por isso, quem conhecer algum termo racista que não esteja nela poderá encaminhá-lo à comissão responsável por sua realização, para que seja incluído em edições futura, pelo e-mail [email protected].