Para o deputado e cientista político Luiz Philippe de Orleans e Bragança, vitória de Trump reflete a desconfiança global na esquerda
Em entrevista exclusiva ao Jornal da Guarujá, o deputado federal destaca a importância da reeleição de Trump para os valores fundamentais dos Estados Unidos e critica a postura do governo Lula nas relações internacionais.
Luiz Philippe de Orleans e Bragança, deputado federal pelo Partido Liberal de São Paulo (PL-SP) e um dos maiores especialistas em política do Brasil, concedeu entrevista ao Jornal da Guarujá nesta quinta-feira, 7, para analisar a recente vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Trineto da Princesa Isabel e tetraneto de Dom Pedro II, Luiz Philippe ocupa um cargo eletivo desde a Proclamação da República, sendo o único membro da família real a fazê-lo desde 1889.
Em seu segundo mandato como deputado federal, ele discutiu o impacto da reeleição de Trump, que, para ele, representa o retorno dos Estados Unidos aos valores fundamentais que originaram a nação americana. “Trump vem com a missão de desarmar estruturas de controle que ele vê como uma tendência autoritária, especialmente a esquerda, que busca controlar tudo e todos. Ele quer resgatar uma ordem natural da sociedade, com foco na família e na soberania popular”, afirmou.
A política interna e externa de Trump
O deputado destacou que, além da política interna, a postura de Trump em relação à política externa será uma das maiores mudanças nos próximos anos. “Ele vem com a missão de reforçar a soberania dos países, sem fazer intervenções externas. Para os países que buscam a soberania, isso será bom; para aqueles que se colocam como inimigos dos Estados Unidos, será ruim”, afirmou. Luiz Philippe também considerou que a postura de Trump contrastará com a fragilidade dos atuais governos no Ocidente, que, segundo ele, sofrem uma espécie de desmobilização intencional. “O atual sistema de defesa dos Estados Unidos tem sido alvo de tentativas de enfraquecimento por outros países autocráticos, e Trump chega com a missão de reforçar esse sistema.”
Em relação à economia, o cientista politico e deputado, vê as políticas protecionistas de Trump com certa ambiguidade. “Ele está apostando em um modelo de maior produção interna, em detrimento da globalização. Uma certa desglobalização, que pode ter efeitos questionáveis, mas o foco é muito claro: produção interna em vez de importações.”
Uma parte significativa da análise de Luiz Philippe foi dedicada ao que ele considera o desgaste da esquerda em todo o mundo. Ele questionou a credibilidade dos institutos de pesquisa, que, segundo ele, favorecem candidatos que defendem um Estado maior e mais controlador. “Nenhum instituto de pesquisa hoje é realmente honesto ou preciso. A maioria está vinculada a grupos de interesse que defendem a expansão do Estado”, disse. Para o deputado, a esquerda global perdeu sua força porque já implementou as políticas públicas que ela defende, como o bem-estar social, a previdência, a saúde e a educação. “O que vemos é que essas políticas, ao invés de trazerem benefícios à população, têm gerado corrupção e esquemas de compadrio com grandes empresas, não serviços de qualidade à população.”
O deputado acredita que a nova versão da esquerda, focada em questões identitárias e no controle da linguagem e do pensamento, também perdeu força. “Essa esquerda identitária está caindo por terra. A população está dizendo basta. A esquerda não tem mais propostas a serem lançadas. O que vemos é um desmonte dessas ideias, e a sociedade está se afastando delas”, afirmou. Segundo Luiz Philippe, a esquerda precisa se reorganizar e encontrar uma nova narrativa para conseguir reconquistar a confiança popular.
Reflexos nas eleições brasileiras
Ao ser questionado sobre como a vitória de Trump pode impactar as eleições presidenciais no Brasil, Luiz Philippe apontou que a situação política dos Estados Unidos tem grande influência no cenário brasileiro. “Mesmo que os Estados Unidos não possam interferir diretamente em nossas instituições, a população brasileira já entendeu que nossas instituições precisam ser preservadas. O Brasil precisa se alinhar com países que defendem a soberania, e Trump tem muito a ver com esse movimento. Ele não quer ver o Brasil se tornando um aliado da China, Rússia ou Irã, o que criaria um problema sério para os EUA”, afirmou.
A postura do governo Lula
O deputado também comentou as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, após a vitória de Trump, fez um posicionamento contrário ao republicano, chegando a criticá-lo de forma contundente. “O presidente Lula ultrapassou uma linha ao atacar Trump de forma tão agressiva. Isso é um erro grave nas relações exteriores. O Brasil tem uma parceria histórica com os Estados Unidos, e romper com isso sem motivo é uma ação completamente irresponsável. O governo Lula precisa entender que suas preferências políticas não podem prejudicar alianças estratégicas que o Brasil mantém com outros países há mais de 100 anos”, disse.
Para Luiz Philippe, a postura radical do governo atual pode prejudicar as relações internacionais do Brasil. “O Brasil está em um purgatório das relações exteriores. A política externa de Lula, com uma postura tão radical contra Trump, pode resultar em um afastamento do governo norte-americano. O Brasil precisa repensar essa postura, pois, ao atacar os Estados Unidos, o governo Lula coloca em risco parcerias importantes para a segurança, a economia e o desenvolvimento do país.”
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